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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que a Bíblia diz sobre um cristão ficar devendo? Um cristão poder pedir dinheiro emprestado ou emprestar dinheiro?


Pergunta: "O que a Bíblia diz sobre um cristão ficar devendo? Um cristão poder pedir dinheiro emprestado ou emprestar dinheiro?"

Resposta: A cobrança de Paulo para que não devamos nada além de amor em Romanos 13:8 é uma poderosa lembrança do desgosto de Deus por todas as formas de débito não prontamente pagos (veja também Salmos 37:21). Normalmente, nós pensamos em débito em termos de uma obrigação monetária. Mas à luz do contexto desta passagem inteira (Romanos 13:1-10), Paulo parece ter em mente uma visão mais ampla de débito (Romanos 13:7). Ele não apenas fala dos tributos, impostos e tarifas que nos são impostas pelo governo, mas também do respeito, da honra e do louvor que nós devemos para aqueles que têm autoridade. Todos nós somos devedores para a graça de Deus. Assim como Ele nos mostrou amor, nós devemos estender o amor para aqueles ao nosso redor com quem nós vivemos e trabalhamos – mesmo aqueles que nos impõem taxas e nos governam.

Algumas pessoas questionam a cobrança de juros em empréstimos, mas diversas vezes na Bíblia nós vemos que é esperado que uma taxa justa de juros seja recebida com o dinheiro emprestado (Provérbios 28:8, Mateus 25:27). Na antiga Israel, a Lei proibia a cobrança de juros em uma categoria de empréstimos – aqueles feitos aos pobres (Levítico 25:35-38). Esta lei tinha diversas implicações sociais, financeiras e espirituais, mas duas devem ser mencionadas. Primeiro, a lei genuinamente ajudava os pobres não tornando a sua situação pior. Era ruim o suficiente ter caído na pobreza, e poderia ser humilhante ter que procurar por assistência. Mas, se somado ao pagamento do empréstimo, uma pessoa pobre tivesse que fazer o pagamento de altos juros, tal obrigação seria mais dolorosa do que prestativa.

Segundo, a lei ensinava uma importante lição espiritual. Seria um ato de misericórdia aquele que empresta dinheiro deixar de cobrar juros sobre o empréstimo. Ele estaria perdendo o uso deste dinheiro ao emprestá-lo. Ainda assim esta seria uma maneira tangível de expressar gratidão a Deus pela Sua misericórdia ao não cobrar “juros” ao seu povo pela graça que ele havia lhes concedido. Assim como Deus havia misericordiosamente tirado os israelitas do Egito quando eles eram nada além de escravos sem valor algum, e dado a eles uma terra (Levítico 25:38), assim Ele também esperava que eles tivessem uma compaixão similar para com os seus próprios cidadãos pobres.

Os cristãos estão em uma situação paralela. A vida, morte e ressurreição de Jesus pagaram a Deus o nosso débito causado pelo pecado. Agora, assim que tivermos oportunidade, nós podemos ajudar outros em necessidade, particularmente nossos irmãos, com empréstimos que não aumentem os seus problemas. Jesus até mesmo contou uma parábola sobre dois credores e a sua atitude com relação ao perdão (Mateus 18:23-35). Ele também instrui os Seus seguidores: “De graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10:8).

A Bíblia nunca permite ou proíbe expressamente o ato de pedir dinheiro emprestado. A sabedoria da Bíblia nos ensina que normalmente não é uma boa idéia ficar endividado. Dívidas essencialmente nos tornam escravos daqueles a quem devemos. Ao mesmo tempo, em algumas situações endividar-se é um “mal necessário”. Enquanto o dinheiro for utilizado de forma sábia e os pagamentos da dívida forem gerenciáveis – um cristão pode tomar para si o fardo da dívida financeira, se necessário.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Doutrina: O Cristão e o Dinheiro Texto-base: 1 Tm 6.1-21


A Bíblia ensina-nos como enfrentar muitas situações diferentes na vida, incluindo como lidar com o dinheiro. Jesus falou muito sobre esse assunto e a Bíblia refere-se muitas vezes às riquezas (Ec 10.19). O dinheiro pode ser bênção ou maldição, dependendo do uso que dele fazemos. Como administramos o dinheiro afeta a nossa comunhão com o Senhor. O dinheiro é um rival de Cristo pelo senhorio da nossa vida (Lc 16.13,14), além de moldar o nosso caráter.

Princípios bíblicos que orientam o trato com as riquezas:

1.Tudo pertence a Deus.

Quando nascemos, nada trouxemos, quando morremos nada levaremos (Ec 5.13-15; 1 Tm 6.7-10; Sl 49.16,17).
Tudo o que possuímos é um empréstimo de Deus! Ele tem o direito de pedir quando quiser. Devemos usar bem o que Ele nos confiou!
Ilustração: Ternos usados nas funerárias não têm bolsos, pois nada levamos.
A terra é do Senhor (Sl 24.1; Ex 19.5; Dt 10.14; Ag 2.8). Tudo o que recebemos vem DELE (Tg 1.17; Jo 3.27; 1 Cr 29.14; Dt 8.18).
Exemplo de um rico: Jó. Era muito rico, “o maior de todos do oriente”: 7000 ovelhas (que davam lã, carne e leite), 3000 camelos (uma caravana de transporte, aluguel, uma transportadora), 1000 bois (para arar os campos, fornecer carne, couro), 500 jumentas (forneciam a iguaria da época: leite de jumenta, transporte).
Deus disse ao inimigo: “tudo quanto tem está em seu poder”. A resposta de Jó: “Deus me deu, Deus tomou”. (Jó 1.20-22).
"Se tudo vem do Senhor e pertence a Ele, então não só o que damos, mas também o que guardamos e gastamos é dEle. É errado pensar que quando damos uma parte de nosso dinheiro ao Senhor, o restante pertence a nós. Tudo pertence a Ele. Na verdade, Ele simplesmente nos permite usar o restante para o nosso sustento." (Lourenço E.K.)

2.Devemos possuir as riquezas e não ser possuídos por elas.

Não há nada errado em possuir os bens, em dirigir um carro. O problema é quando os bens nos possuem, quando o carro nos dirige. Ilustração: Homem que não saía de carro na chuva para não sujá-lo.
Jó nunca se prendeu aos bens. Como não era ele o proprietário, não teve problemas em devolvê-los.
O dinheiro em si não é pecaminoso, mas o amor às riquezas (1 Tm 6.10)
O rico insensato (Lc 12.13-21) usa várias vezes os pronomes possessivos: os meus. Não junte na terra, mas no céu (Mt 6.19-21; Sl 62.10). Quem tem como seu tesouro as coisas terrestres, terá seu coração escravizado por tais coisas. A palavra grega traduzida avareza (pleonexia), literalmente significa a sede de possuir mais.
O avarento não entra no céu (Ef 5.5). Devemos estar contentes com o que temos, pois Deus cuida de nós (Hb 13.5; Sl 37.25; Fp 4.10-13; 1 Tm 6.6). O problema é: em quem confiar?
A Bíblia identifica a busca insaciável e avarenta pelas riquezas como idolatria (1 Co 10.19,20; Cl 3.5). A ambição pela riqueza e a sua busca freqüentemente escravizam as pessoas (Mt 6.24).
As riquezas são, na perspectiva de Jesus, um obstáculo, tanto à salvação como ao discipulado (Mt 19.23,24; 13.22). Transmitem um falso senso de segurança (Lc 12.15ss.), enganam (Mt 13.22) e exigem total lealdade do coração (Mt 6.21). Quase sempre os ricos vivem como quem não precisa de Deus. Na sua luta para acumular riquezas, os ricos sufocam sua vida espiritual (Lc 8.14), caem em tentação e sucumbem aos desejos nocivos (1Tm 6.9), e daí abandonam a fé (1Tm 6.10). Geralmente os ricos exploram os pobres (Tg 2.5,6). O cristão não deve, pois, ter a ambição de ficar rico (1Tm 6.9-11).
O amontoar egoísta de bens materiais é uma indicação de que a vida já não é considerada do ponto de vista da eternidade (Cl 3.1). O egoísta e cobiçoso já não centraliza em Deus o seu alvo e a sua realização, mas, sim, em si mesmo e nas suas possessões. O fato de a esposa de Ló pôr todo seu coração numa cidade terrena e seus prazeres, e não na cidade celestial, resultou na sua tragédia (Gn 19.16,26; Lc 17.28-33; Hb 11.8-10).
O pouco com Deus é tudo (Pv 15.16). Não se apegue às coisas!!!

3.Devemos trabalhar para ganharmos nosso dinheiro.

O homem deve trabalhar (1 Ts 4.11,12; 2.9; 2 Ts 3.10,11; Ef 4.28; Pv 27.23-27) honestamente e diligentemente (Pv 10.2; 16.8; 20.17; 22.28; Pv 21.6), numa atividade que glorifique a Deus (1 Co 10.31; Cl 3.22-25; Dt 23.18).
A Bíblia condena a preguiça (Pv 6.9-11; Pv 28.19; Ec 10.18). O preguiçoso adia o começo daquilo que deve ser feito (Pv 6.9,10; 22.13) e não termina o que já foi iniciado (Pv 12.27); é adepto da lei do menor esforço (Pv 20.4). Jesus abençoou Pedro através do trabalho – a pesca (Mt 17.24-27).


Como Satanás controla os avarentos: através da ganância, sede de poder, orgulho, medo, temor da insegurança financeira.

1.Ganância

Ser ganancioso é ter além do que pode usar: 3000 pares de sapato, 5 carros, vários relógios, etc.
Antídoto para a ganância: Generosidade. Dar a Deus (Pv 3.9,10; 1 Cr 29.17; 2 Co 9.6,7,10).Dar aos pobres (Lc 22.33; Pv 19.17; 11.24,25; 21.13; 28.27; Sl 41.1; Is 58.10; Mt 6.4; 19.21)
Jesus, do que recebia, dava aos pobres (Jo 12.5,6; 13.29). Paulo (Gl 2.10) e João Batista (Lc 3.10-14) são exemplos.
Devemos mostrar gratidão (Cl 3.15; 1 Ts 5.18) e contribuir com alegria (2 Co 9.6-8)

2.Orgulho

Comerciais que apelam para o orgulho: “Suas amigas vão morrer de inveja”, “Só para pessoas exigentes”.
Antídoto para o orgulho: simplicidade, despojamento, humildade (Mt 10.16; 2 Co 11.3; Hb 13.5,6). O exemplo de João Batista (Lc 3.11-14).

3.Medo

Muitos são dominados pelo pensamento: “E se não tiver amanhã?”. Colocam até o dinheiro no colchão.
Não devemos nos preocupar, pois Deus cuida de nós (Mt 6.25-34)
Esperança em Deus ou nas riquezas? (1 Tm 6.17)
Nunca devemos pôr nossa confiança nas riquezas (Sl 62.10; 1 Tm 6.17-19; Pv 11.28; Lc 12.15-21; 1 Tm 6.4-11; Mt 6.24). O dinheiro não é fonte de alegria ou contentamento (Pv 15.16-17; Ec 5.10-11). É bom ter o suficiente, mas não o excesso (Pv 30.7-9).

Devemos evitar:

· Dívidas fora do seu alcance (Rm 13.8). O crente não deve fazer dívida. Devemos fazer uma previsão de gastos para não perder o controle. Não devemos nos comparar com os outros, nem cairmos no consumismo desenfreado (1 Tm 6.8-10). Evitar a todo custo, contrair mais dívidas para pagar dívidas; Não aceitar propostas de credores fora de suas reais possibilidades de pagamento; Não dever a agiotas. Dicas: gastar menos, ganhar mais, vender algo que não seja essencial.
· Ficar por fiador (Pv 17.18; 11.15; 6.1-5; 22.26)
· Desonestidade. A pessoa que promete pagar é obrigada cumprir a promessa. Aquele que promete e não paga está pecando. (Lc 16.12; Sl 15.4,5; Hb 2.9; Ef 4.1,25; Mt 5.37). A honestidade é parte do caráter cristão (2 Co 8.21; Tt 2.5; Pv 11.1; Jr 17.11). O nome de Deus é blasfemado, quando somos desonestos (Rm 2.21-24).
· Fazer do objetivo da vida o enriquecimento (1 Tm 6.9; Pv 23.4)

O que fazer com o dinheiro?

· Seja “rico para com Deus” (Mt 6.33; Jr 9.23-24; Pv 3.9,10).
· Viva dentro dos limites de seu orçamento (Pv 22.7)
· Pague os impostos e obedeça às leis do governo (Mt 22.17-21; Rm 13.1-8; 1 Pe 2.13-17; Sl 37.21).
· Não ser ganancioso, nem oprimir outros (Pv 28.8; Tg 2.6-7; 5:1-6; Am 8.4-6).
· Ore pedindo ajuda a Deus (Tg 4.2). Deus supre a necessidade (Mt 5.45; Sl 37.25; Mt 6.31,32). É preciso distinguir entre necessidade e cobiça (Tg 4.3; Is 55.2,3)
· Procure orientação (Cl 3.16; Hb 10.24; Pv 11.14; 12.15; 15.22; 24.6 )
· Não invejar a prosperidade do ímpio (Sl 73).
· Desfrute sem comprar (Praia, biblioteca, museu, parques públicos).

Existem coisas que o dinheiro não pode comprar, como uma espiritualidade genuína (At 8.18-20; Ap 2.9)

Muitos crêem que a riqueza é um sinal de benção e a pobreza de falta de fé ou pecado.
Os fariseus escarneciam de Jesus por causa da sua pobreza (Lc 16.14). Essa idéia falsa é desmentida por Cristo (Lc 6.20; 16.13; 18.24,25).

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Cristão e o Dinheiro - A Bíblia não ensina que há virtude na pobreza, nem pecado na riqueza.


O que a Bíblia condena não é a quantidade de riqueza, mas antes, a atitude errada para com ela.

Toda a vida dos cristãos está sob o senhorio de Jesus Cristo. Issoinclui questões financeirastem implicações na atitude diante dariqueza e da pobrezaNão é surpresaentãoque os assuntoseconômicos sejam importantes nos ensinamentos da Bíblia e naética social da igreja cristã.
Encontramos na Bíblia uma ambivalência fundamental comrelação ao dinheiro. Em alguns contextosespecialmente no VelhoTestamentoele é apresentado de forma bem positiva. O texto falaque Abraão “tinha enriquecido muito, tanto em gado como em prata e ouro” (Gênesis 13.2). Jó era muito rico e Salomão recebeuriqueza e honra sem igual entre os reis que viveram na mesma época que ele (1 Reis 3:13). Provérbios diz que “a bênção do Senhor traz riqueza” (10:22); e apresenta uma ética de trabalho simples: “As mãos preguiçosas empobrecem o homem, porém as mãos diligentes lhe trazem riqueza” (10:4).
Claro que o Velho Testamento apresenta advertências quanto àriqueza. Nunca podemos perder a sua fonte: “Lembrem-se do Senhor, o seu Deus, pois é Ele que lhes dá a capacidade de produzir riqueza” (Deuteronômio 8.18). Jamais devemos colocar na riquezanossa confiança. O salmista escreveu que Deus trará destruição completa ao “homem que rejeitou a Deus como refúgio; confiou em sua grande riqueza” (Salmos 52:7). Além disso, a obrigação de cuidar dos necessitados acompanha a aquisição de bens: “Quem trata bem os pobres empresta ao Senhor” (Provérbios 19.17). As determinações do Velho Testamento sobre dízimo, o sábado e jubileu serviam, em parte, para lembrar aos israelitas que ariqueza deles pertencia, no final das contas, a Deus e que deveriam usá-la para a glória dele.
A imagem do dinheiro muda no Novo Testamentoque enfatiza a chegada do reino de Deus com a vinda de Jesus Cristo. A ênfase maior passa a ser nos aspectos negativos. Jesus abordou várias vezes o assunto. Na parábola do rico insensato (Lucas 12.19), mostrou a tolice de ser rico materialmente e pobre diante de Deus. Condenou a atitude idólatra de quem se relaciona com o dinheirocomo deus: “Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Lucas 16.13). Jesus lembra que o dinheiro foi criado por Deus e não pode assumir a liderança de nossa vida; precisamos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e todas as outras coisas nos serão acrescentadas (Lucas 12.31). A riqueza facilmente nos conduz à tentação de dedicarmos atenção para as coisas deste mundo, afastando-nos de Cristo e de seu reino. Na parábola do semeador, a riqueza sufocou a palavra e impediu-a de frutificar (Mateus 13.22). Por isso, é difícil um rico se converter (Mateus 19.23-24). Os pobres estão em vantagem, não apenas por serem pobres, mas porque não têm como confiar em seus próprios recursos e, assim, estão mais prontos a se submeter ao senhorio de Cristo.
Esses ensinamentos de Jesus se refletem no restante do NovoTestamento, onde somos avisados de que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (talvez a declaração bíblica mais conhecida sobre o assunto). Para Paulo, o oposto de cobiça é contentamento, aspecto fundamental da vida cristã (Filipenses 4.12).
Finalmente, a verdadeira riqueza deve ser encontrada na salvação em Jesus Cristo, descrita muitas vezes na Bíblia em termoseconômicos. Os pobres deste mundo foram escolhidos para serem “ricos em fé” e “herdarem o Reino” (Tiago 2.5). Paulo descreveu seu ministério: “pobres, mas enriquecendo muitos outros; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Coríntios 6.10). Logicamente, podemos concluir que Paulo afirma que somos ricos porque Jesus se tornou pobre (2 Coríntios 8.9). O que a Bíblia ensina sobre odinheiroentão, possui dois aspectos: ele é um presente de Deus, sinal de sua bênção. Mas não pode se tornar um deus para nós. ABíblia não prega o ascetismo, ou seja, não vê virtude inerente àpobreza, nem pecado inerente à riqueza. Mas nos ensina que a verdadeira riqueza é a espiritual, não a material.
Como a Igreja Primitiva via a questão -Como os ensinamentosbíblicos sobre o dinheiro têm sido interpretados durante a históriada Igreja? A Igreja Primitiva em geral era pobre. Ensinava a indiferença e o desapego diante das coisas deste mundo, em parte por causa da expectativa escatológica da consumação iminente do reino. Pouco a pouco, desenvolveu desconfiança diante da riqueza e exaltação da pobreza.
Porém, a Igreja Primitiva não era comunista ou socialista como muitos já afirmaram. Os líderes perceberam a tensão entre a afirmação da pobreza na Bíblia e as exigências radicais do amor cristão. Aceitavam a propriedade privada e a atividade comercial, embora as considerassem instituições surgidas depois da Queda, acomodações ao pecado humano e, por isso, proibidas aos membros do clero. E as advertências quanto aos perigos da riqueza eram constantes, assim como as instruções aos ricos para aliviarem o sofrimento dos pobres através de atos de caridade. A propriedade privada deveria ser usada para beneficiar os outros. Policarpo de Esmirna disse: “Quando estiver ao seu alcance fazer o bem, não deixe de fazer, porque as esmolas libertam da morte”.
Entretanto, não pensavam que a Bíblia se opunha totalmente àriqueza. O que ela condena não é a quantidade de riqueza, mas antes a atitude errada para com ela.
Agostinho escreveu, em seu comentário sobre o Salmo 72, que a cobiça é um pecado que ataca o pobre tanto quanto o rico: “Não éuma questão de renda e sim de desejo. Observe o rico ao seu lado; talvez tenha muito dinheiro, mas não é avarento; você, no entanto, não tem dinheiro, mas é muito avarento”. A mesma idéia ecoou no sermão “Quem é o rico que será salvo?”, de Clemente de Alexandria. Ele declarou que o rico da parábola, que não se preocupa com seu sustento, pode ser menos ganancioso do que o pobre e, assim, estar mais perto da salvação. Não somos obrigados a concordar com a exegese dele para afirmar que a advertência bíblica contra o amor ao dinheiro se aplica tanto a pobres quanto a ricos.
De modo geral, os Pais da Igreja se concentraram em questõesfinanceiras pessoais e não trataram de questões amplas de justiça econômica. A exceção notável foi sobre a condenação da usura. Eram contra qualquer cobrança de juros em empréstimos. Consideravam as proibições do Velho Testamento válidas (Deuteronômio 23.19) e os ensinamentos do Novo Testamentosobre o amor eram incompatíveis com a cobrança de juros (“emprestem... sem esperar receber nada em troca” - Lucas 6.35). Atanásio ensinava que a usura era um pecado tão grave que quem a praticava perdia a salvação. Ambrósio concordou com ele e escreveu: “Se alguém pratica a usura, rouba e não possui mais a vida”.

Com a proibição da usura, os Pais da Igreja visavam protegerespecialmente os pobres, mais inclinados a pedir empréstimos. Osque emprestavam muitas vezes os levavam à escravidão ou aosuicídio. Os Pais da Igreja não lidavam com o aspecto moral nos casos em que o devedor era o beneficiado com o empréstimo.
A Igreja medieval desenvolveu e institucionalizou o pensamento cristão sobre o dinheiro. O movimento ascético da Igreja antiga encontrou apoio no dualismo natureza-graça presente no pensamento de Tomás de Aquino. O dinheiro era considerado não-espiritual, produto do mundo decaído. Qualquer riqueza superiorao mínimo necessário para a sobrevivência era tida como contrária à verdadeira espiritualidade (oposta à matéria) e apobreza, como necessária para se alcançar perfeição espiritual. Tomás de Aquino refletia a antipatia dos pais da Igreja pela atividade comercial, vendo nela “um toque desprezível”,especialmente quando envolvia a prática da usura.
Começamos a ver, na Idade Média, esforços legislativos da Igreja no sentido de minimizar o problema da pobreza. Os concílios elevaram a prática de doações quase como um imposto. Os membros eram obrigados a entregar aos bispos um décimo de sua renda com a finalidade específica de ajudar os pobres.

A Doutrina dos Reformadores sobre o dinheiro - A Reforma redescobriu a doutrina da justificação pela fé, e isso causou um impacto importante na interpretação das questões econômicas. Os reformadores rejeitaram a glorificação da pobreza. Os movimentos monásticos haviam iniciado como obras de caridade, mas se transformaram em meio de buscar a salvação. A justificação pela fé ensinava que a salvação é o fundamento, não o alvo, da vidacristã. Portanto, não havia qualquer valor para a salvação em ser pobre nem em dar esmolas. Os reformadores não negavam as advertências da Bíblia quanto à riqueza (Lutero defendia a necessidade de três conversões: a do coração, a da mente e a do bolso). Mas, apesar disso, não recomendavam a pobreza material. Calvino escreveu que esta é tão perigosa para o espírito quanto ariqueza: “À direita encontram-se, por exemplo, riqueza, poder e honra, que costumam abafar a percepção dos homens com o brilho e a aparente bondade que apresentam, e os enganam com agrados, de modo que, presos por essas armadilhas e embriagados por essas doçuras, acabam se esquecendo de Deus. À esquerda estão, por exemplo, pobreza, desgraça, desprezo, aflições e coisas semelhantes. Frustrados pelas lutas e dificuldades, tornam-se desesperados namente, afastam toda segurança e esperança e, por fim, se afastam completamente de Deus”.
Os reformadores também abandonaram o antimaterialismo de Tomás de Aquino, que servia de base à rejeição da riqueza na Idade Média. Tomás de Aquino ensinava que o dinheiro surgira como conseqüência da Queda, mas Calvino o considerava sob um aspecto mais positivo, como parte da criação, da “ordem natural”, veículo para facilitar a comunicação humana. Portanto, o uso errado dodinheiro era uma corrupção da ordem da natureza.
Calvino foi o primeiro teólogo a questionar o ensinamento escolástico sobre a usura. Para ele, a proibição absoluta dacobrança de juros se relacionava mais a uma visão aristotélica dodinheiro do que ao testemunho bíblico. O dinheiro não era umaunidade estática de troca (como Aristóteles defendia), mas umaferramenta dinâmica para criação da riqueza. Como havia possibilidade de quem pedia empréstimo ter lucro com o dinheiro,os argumentos contra a usura perdiam um pouco a força. Mas Calvino não a defendeu por completo, fez distinção entre a legal e a ilegal. Esta seria a prática profissional que, invariavelmente, oprimia os pobres e deveria ser banida da Igreja, insistia Calvino: “Não podemos enriquecer à custa de outros”. Mas a usura seria legal, e inclusive necessária, nos contextos comerciais. Os reformadores não viam incompatibilidade entre atividade comercial e vida cristã. Calvino se limitava a insistir que a Regra de Ouro deveria controlar os negócios. Wesley aconselhava oscrentes a fazerem seus negócios para a glória de Deus: “Ganhe o máximo que puder, poupe tudo que conseguir e dê tudo que for possível”.

Dissidência anabatista - Apesar do consenso da visão positiva sobre o dinheiro na Reforma, os anabatistas se colocaram como importante voz dissidente. Na economia, como em outros assuntos, consideravam que os reformadores não tinham avançado até o ponto necessário. Menno Simmons criticava os reformadores por não cuidarem dos pobres da forma devida, fato que segundo ele, deixaria o evangelho “muito fácil” e o sacramento reduzido a um “mero partir do pão”.

É triste, uma hipocrisia intolerável, que esses infelizes se gabem de ter a Palavra de Deus, de ser a verdadeira igreja cristã e nunca se lembrem que perderam por completo a marca do verdadeiro cristianismo. Muitos possuem muito de tudo, andam em seda e veludo, ouro e prata e todo tipo de pompa e esplendor; enfeitam a casa com móveis caros; têm o cofre cheio e vivem em luxo e esplendor. Mesmo assim, impelem os membros pobres e aflitos, a pedirem esmolas e os carentes, famintos, idosos, aleijados, cegos e doentes a mendigar o pão em suas portas (Menno Simmons).

Para Simmons, o evangelho implicava em uma obrigação radical de cuidar dos pobres: “Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 João 3:17).

A maioria dos anabatistas aceitava a propriedade privada, masalguns renunciavam completamente a posse de bens. Os seguidores de Ulrich Von Hutten praticavam a “comunhão dos bens”, adotaram um tipo de “comunismo cristão”. As palavras de Ulrich Stadler revelam como a posse de bens parecia destrutiva aos olhos deles: “um, comum edifica a casa do Senhor e é puro, mas meu, teu, dele, próprio divide a casa do Senhor e é impuro. Assim, onde existe propriedade e uma pessoa a possui, e é dela, que não deseja ser uma com Cristo e pertencer a Ele na vida e na morte,está afastada de Cristo e de sua comunhão e não tem um Pai no céu”.

A Ética puritana - Porém, os anabatistas eram uma minoria perseguida, com influência limitada. Enquanto isso, os puritanos trouxeram o legado econômico da Reforma para o Novo Mundo. Seguiam uma ética de trabalho, moderação e vida simples. Ironicamente, essa ética acabava produzindo grande riqueza. A semelhança entre a ética de trabalho dos puritanos e a éticaprofissional do capitalismo levou o sociólogo Max Weber a criar a tese de que a teologia da Reforma, em especial do Calvinismo, deu origem ao capitalismo. Em seu famoso livro ética protestante e o espírito do capitalismoele afirmou que as virtudes calvinistas dafrugalidade, honestidade e economia produziram um “ascetismo deste mundo” que substituiu o “ascetismo do outro mundo” medieval e gerou acúmulo de riquezas.

A tese de Weber atrai, mas Calvino advertia contra o perigo de se ver a riqueza como sinal automático da eleição divina. Nãodevemos tentar esquadrinhar os mistérios da providência de Deus. Afinal, a sua graça não faz diferença entre as pessoas, e Ele concede riquezas aos pagãos. Os puritanos, também, não viam nenhum mérito inerente à riqueza. Ela costumava ser encarada com muito cuidado. Richard Baxter avisou: “onde o mundo colocou os bens no coração, nos tornamos falsos para com Deus e o semelhante, infiéis no chamado e falsos para com a própria religião”. Os puritanos tinham convicção profunda de que as riquezas podiam afastar a pessoa de Deus. Cotton Matter escreveu, comentando o materialismo de sua época: “A religião gerou a prosperidade e a filha devorou a mãe”.

Críticos de Weber se inquietam por encontrar no calvinismo umalegitimação do capitalismo; alguns vêem uma correlação oposta entre o crescimento do capitalismo e o declínio do calvinismo. Na era pós-Reforma, o capitalismo secularizou a ética calvinista. O protestantismo se tornou sinônimo de classe média respeitável e as virtudes cristãs se confundiram com os valores burgueses. A era pós-Reforma abandonou o pensamento social revolucionário dos Reformadores. Em vez de buscar soluções estruturais para apobreza, característica da Reforma, o protestantismo voltou aomodelo de caridade pessoal da Igreja Primitiva. Os esforços para amenizar a situação das vítimas econômicas da industrialização em geral não tiveram como alvo mudanças estruturais nasociedade.

Economia cristã no continente americano - Para osevangélicos dos Estados Unidos, o problema da pobreza se vincula à questão de relacionar evangelismo e ação social. No século 19, o império evangélico não via conflito e a igreja se dedicava a ambas atividades. O historiador Timothy Smith afirma que evangélicosque defendiam a Reforma uniam, com sucesso, esforços espirituais e sociais: “O impulso de ganhar almas impeliu os cristãos a realizar esforços sistemáticos para aliviar o sofrimento dos pobres quemoravam nas cidades”. Na virada do século, contudo, pré-milenistas pessimistas consideravam a reforma social uma causa perdida. Mais uma vez, a caridade se tornou privatizada e, nas igrejas, a ênfase voltou a ser o evangelismo. Dwight L. Moody, por exemplo, defendia que a conversão dos indivíduos era a maior esperança de mudança social. A partir da metade do século 20, osevangélicos têm considerado a indiferença diante da ação socialuma característica dos fundamentalistas, mas continuam a existir debates sobre como a Igreja pode tratar melhor da pobreza e de outras questões sociais.

No cristianismo contemporâneo, grande parte da atenção nos debates sobre questões econômicas enfoca as raízes estruturais dariqueza e da pobreza. Alguns autores renunciam à preocupação tradicional com a atitude diante da riqueza e consideram a quantidade de riqueza um pecado nesse mundo de diferença cada vez maior entre ricos e pobres. Os efeitos desiguais daindustrialização, o empobrecimento do Terceiro Mundo e o hedonismo grosseiro do consumismo ocidental levou essas pessoas a buscarem solucionar o problema da pobreza através dadistribuição da riqueza. Walter Rauschenbusch, com o movimento do Evangelho Social, tentou reformar o capitalismo laissez-faire dominante nos Estados Unidos no século 19 colocando as estruturas econômicas sob a “lei de Cristo” e não da “lei de Mamom”. A visão dele era estabelecer uma era de justiça econômica, caracterizada por salários justos, poucos desempregados e redistribuição dariqueza.
Mais recentemente, e mais radical, a teologia da libertação atribuiu a fonte da pobreza do Terceiro Mundo à riqueza ocidental. Segundo essa linha, o dinheiro não é neutro, mas pode assumir caráter demoníaco, sendo um dos “principados e potestades” das trevas que lutam contra o reino de Deus. Assim, os ricos são osopressores deste mundo e os episódios bíblicos do Êxodo e daEncarnação (Lucas 4), modelos para ação revolucionária: Deus agindo decisivamente para depor os poderosos e libertar os pobres. Muitos teólogos da libertação condenam a propriedade privada e geralmente possuem visão utópica de uma sociedade onde a éticado reino sobrepuja o egoísmo humano.
Enquanto o evangelho social e a teologia da libertação recomendam mudanças econômicas socialistas, outra corrente de pensamento defende uma “teologia da libertação alternativa” no capitalismo democrático. Essa corrente vê falhas na atitudenegativa para com o dinheiro e na pressuposição básica daredistribuição (os pobres são pobres porque os ricos são ricos). Aponta as virtudes da produtividade e o sucesso das sociedades capitalistas na elevação do padrão de vida, e encontra esperança para os pobres na criação de mais riqueza. Essa escola de pensamento prefere modelos de desenvolvimento em lugar de libertação. E considera a visão da teologia da libertação irreal: o máximo que os cristãos podem esperar neste mundo é controlar o egoísmo e não erradicá-lo.

O debate atual e as tensões na história da interpretação nos fazem lembrar os dois aspectos do testemunho bíblico sobre o dinheiro. Embora ele seja uma bênção de Deus, o amor a ele é pecado. Naatitude pessoal diante da riqueza, as duas idéias se harmonizam no conceito bíblico de mordomia. Na mordomia, o dinheiro é recebido como presente de Deus, mas a pessoa não pode esquecer que tudoque possui pertence, no final das contas, a Deus. O dinheiro nos éconfiado por algum tempo, e seremos obrigados a prestar contas sobre como vamos usá-lo.

O teólogo presbiteriano Robert Dabney, do sul dos Estados Unidos, escreveu que a mordomia exige do cristão a utilização da riquezada forma mais eficiente que puder: “É sua obrigação usar cada parte de seus bens da melhor maneira possível em suas circunstâncias. Se houver outro caminho a nosso alcance em quenosso dinheiro poderia ter produzido bem maior e mais honra a Deus, e nós o gastamos em algo inocente, mas nem tão benéfico aoserviço dele, falhamos em nosso dever. Pecamos”. Dabney oferece um teste simples para avaliar a forma como usamos o dinheiro de Deus: Tornamo-nos servos de Deus mais eficientes quando usamos o dinheiro?